Jairton Dupont é professor emérito da UFRGS

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Uma celebração ao conhecimento, à ciência, à universidade, aos afetos, aos amigos e colegas que preenchem uma trajetória e sobretudo uma homenagem ao mais novo professor emérito da UFRGS. Esse foi o tom da sessão solene do Conselho Universitário (Consun) realizada na manhã desta quinta-feira, 7 de agosto, para outorga do título de professor emérito [ao Acadêmico] Jairton Dupont, docente na Universidade desde 1992, quando ingressou no Instituto de Química e, com visão e coragem – conforme as palavras da reitora [e Acadêmica] Marcia Barbosa – empreendeu uma carreira acadêmica de destaque internacional.

Jairton Dupont sendo cumprimentado pelo orador Osvaldo Casagrande Jr. | Foto 

A proposta encaminhada pelo Instituto de Química para concessão do título (Parecer n º 205/2024) destaca não só a trajetória de cientista e professor de Jairton Dupont – que inclui entre tantas outras distinções a presença na lista dos 100 químicos mais influentes do mundo, elaborada pela agência internacional Thomson Reuters em 2011 – mas também seu talento para inspirar jovens pesquisadores e para liderar grupos e projetos de pesquisa.

O orador da sessão, amigo e afilhado de casamento de Jairton, o professor Osvaldo Casagrande Júnior, também ressaltou outras características do homenageado que vão além da excelência acadêmica. Numa fala emocionada, mencionou a grandeza humana e a postura generosa do colega, que sempre creditou o reconhecimento recebido à equipe e ao trabalho coletivo. Osvaldo lembrou que Jairton teve uma atuação pautada por “ideias ousadas, inteligentes e desafiadoras” e marcada pelo “desejo de transformação profunda e pelo compromisso com uma universidade mais vibrante e democrática”. Salientou ainda que a homenagem não era apenas da UFRGS, mas sim da Ciência brasileira, reconhecendo sua contribuição, sua trajetória brilhante e seu pioneirismo.

A rica trajetória que ajudou a consolidar a UFRGS como um centro de excelência em química inclui a publicação de cerca de 400 artigos científicos em periódicos de alto impacto, dezenas de patentes, livros e capítulos de livros e mais de 30 mil citações. Conforme o orador, a contribuição de Jairton na área de catálise e química verde, especialmente com líquidos iônicos, redefiniu práticas e abriu novos caminhos. Seu artigo pioneiro, publicado na revista Polyhedron em 1996, sobre o uso desses líquidos em catálise organometálica, tornou-se o mais citado da história da publicação. Em 2002, Jairton publicou o artigo em que faz uma revisão do tema e que recebeu mais de 3,8 mil citações.

No elenco de prêmios e distinções obtidos em mais de três décadas de itensa dedicação à pesquisa e ao ensino, estão: Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico; Medalha Simão Mathias, concedida pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ); Pesquisador Emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Prêmio Humboldt Research Award; Medalha de Ouro da Royal Society of Chemistry (RSC); Prêmio Scopus da Elsevier-Capes; Prêmio Conrado Wessel na categoria de Ciência, em reconhecimento ao trabalho na área da química, especialmente em relação à química verde e sustentável, campo em que se tornou referência mundial; e Doutor Honoris Causa da Universidade de Murcia.

Papel do conhecimento

Jairton Dupont resgatou um discurso feito há mais de 10 anos, de quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Murcia, para novamente, em 2025, expressar sua preocupação com a perda de importância e de valor que a Ciência e as instituições universitárias enfrentam “em um mundo cada vez mais iletrado”, tanto científica como culturalmente. Afirmou que “a universidade e seus membros devem defender com firmeza o orgulho e o papel do conhecimento – sua geração e sua transmissão – como essência de nossa qualidade de vida”. Segundo ele, vivemos tempos semelhantes aos de Galileu Galilei e, mais uma vez, é a Ciência, feita por cientistas, que poderá nos conduzir a um futuro melhor.

Após um breve relato que apresentou a trajetória do grupo de pesquisa ao qual pertence desde o início de 1990, destacando as contribuições coletivas para o avanço do conhecimento sobre líquidos iônicos e sua aplicação pra tornar processos industriais mais sustentáveis, Jairton Dupont encerrou assim sua fala: “Celebremos o conhecimento — não como privilégio, mas como compromisso. Em tempos de ruído e negação, cabe a nós, cientistas e educadores, reafirmar que a Ciência não é um dogma, mas uma construção humana baseada em evidências, em diálogo, em dúvida metódica e em coragem intelectual. Temos o dever de educar, de iluminar, de transferir à sociedade o real significado da Ciência: ferramenta de liberdade, ponte entre o que somos e o que ainda podemos ser. Somos apenas poeira de estrelas, partículas breves em um cosmos indiferente — mas dotados da rara capacidade de compreender, de criar, de transformar. Não somos únicos. Somos parte. E é justamente por isso que devemos agir com humildade, mas também com firmezaPorque, no fim, é a Ciência que liberta”.

A sessão, que contou com a presença de ex-alunos, colegas, amigos, familiares, professores eméritos da UFRGS, do ex-reitor Hélgio Trindade, foi encerrada pela reitora Marcia Barbosa após uma fala em que exaltou duas qualidades dos professores eméritos: visão para enxergar o que ainda não aconteceu e coragem para se jogar naquilo que  enxergamos. “Jairton tem as duas, juntou visão e coragem e conseguiu construir um laboratório competitivo internacionalmente, sem a arrogância dos que se fecham nos seus laboratórios”, afirmou. Marcia também fez menção ao momento em que as universidades são alvo de profundos ataques e disse que a resposta aos desafios atuais virá do Sul Global, com suas universidades que sabem fazer ensino, pesquisa e extensão. Por fim, Marcia convidou Jairton a ser companheiro em um projeto para tornar a Universidade cada vez mais aberta e presente na comunidade e ser o instrumento de resistência aos ataques dos “irmãos do Norte, ao ataque colonialista que está tentando destruir a economia do Brasil e particularmente do Rio Grande do Sul”.

Compuseram a mesa da sessão solene do Consun, além da reitora, do homenageado e do orador, também o vice-reitor Pedro Costa e o diretor do Instituto de Química Adriano Lisboa Monteiro, que conduziu Jairton à Sala dos Conselhos.

Veja aqui a matéria original no site da UFRGS

(Site da UFRGS | Foto: Rochele Zandavalli)